“Andei por aí pensando... Me achei diferente...”
Foi esse trecho da música Toda Vez (Luiza Possi) que me fez repensar nos últimos acontecimentos da minha vida.
Na verdade, em todos os acontecimentos.
Nasci numa família muito humilde.
A realidade apareceu muito cedo pra mim.
A eterna dificuldade financeira. Os problemas infindáveis.
E apesar de todo o turbilhão de emoções pelos quais eu passei, fui criada com muito amor, carinho, dengo e proteção.
Sempre estive ciente da nossa situação, mas em meio a diversidades posso dizer que minha infância foi alegre.
Fui super-protegida, hoje vejo isso como uma forma que meus pais criaram para “colorir” meu mundo, por vezes tão preto e branco.
É como se eles tivessem feito isso para me proteger de um mundo muito injusto, perverso e sofrido.
O tempo passou e tornei-me uma jovem um tanto medrosa.
Aos 22 anos, precisei decidir o que faria da vida e saí para estudar.
Detalhe: à noite.
Eu, que sempre estudei pertinho de casa, agora tinha de pegar o ônibus (sozinha) e à noite!
Isso era muito pra mim.
Novidade.
Curso técnico.
A maioria era homem.
Posso dizer que cada noite, era como uma prova de fogo.
Apesar do medo, a vontade de me superar era maior do que qualquer outra coisa.
Não demorou muito para que eu começasse a trabalhar.
O primeiro emprego.
Não era nada que eu sonhei (até era, pois quando criança gostava de brincar de secretária. Não era secretária, mas trabalhei num escritório, onde por vezes fazia funções de tal).
Tive de perder toda a timidez e lidar com pessoas. Das mais variadas.
Conviver com personalidades diferentes é complicado, mas levei ao trabalho àquilo que fez parte da minha educação.
Principalmente o respeito.
Foi lá que conheci o que o ser humano tem de pior.
Conheci pessoas pequenas, mesquinhas, capazes de roubar o sonho de alguém.
Em meio a isso, lidei com problemas em casa (já disse que eram infindáveis?) e um outro no curso.
Não que eu não estivesse me adaptando às aulas... Foi algo pessoal.
E foi nessa situação, que precisei agir.
Naquela hora eu não podia contar com meus pais.
Na verdade, eu não podia contar aos meus pais.
E agi.
Reagi. E não me arrependo.
Passado o problema no curso e em casa (o de casa nem foi resolvido, apenas me adaptei ao que não pode ser mudado), continuou àquele que havia no trabalho.
Eu não queria estar ali.
Ia contra meus princípios.
As pessoas não eram confiáveis.
Fiquei enojada.
E pedi para sair (pela terceira vez eu estava agindo como adulta. Sim! Eu era adulta!).
Com o coração na mão. Morrendo de medo do que viria depois.
Mas encarei e pedi para sair.
Três meses depois, eu estava trabalhando numa empresa, onde eu podia ver o funcionamento de tudo àquilo que estudei no curso.
Era tudo o que eu queria.
Não vou dizer que é o emprego dos meus sonhos. Claro que não é.
Mas foi lá em que eu cresci.
Profissional e pessoalmente.
“Hoje vejo as coisas, diferentes do que vi. Meu ritmo conheço e ando mais sem medo. Duvidei de mim, tanto e quase me perdi...” (Bons Ventos – Luiza Possi)
Quase, mas me achei.
Me achei e aprendi muito.
Conheci gente de todos os tipos e personalidades.
Grandes profissionais, com quem eu aprendi demais e sou eternamente grata.
Mas como nem tudo são flores, um ano depois me deparo com gente do mais baixo nível. Da maior sordidez.
O mundo antes colorido, hoje aparece para mim com cores escuras também. Fortes.
“Bem-vinda ao mundo real”.
Há um poema de Augusto dos Anjos, chamado “Versos Íntimos” em que num trecho, ele fala que “o homem em meio às feras, sente a necessidade de ser fera também.”.
Ele tem razão. A pessoa acaba se “adequando” ao meio em que vive.
Mas eu me recuso a ser igual a eles.
Recuso-me a agir como eles.
Nada vai me corromper.
Meu caráter, meus valores, meus conceitos... Fazem parte da minha personalidade.
Solidificam meu ser.
Faz três anos que virei adulta.
É, tudo aconteceu fora do tempo em minha vida....
Mas acho que o casulo quebrou na hora certa, na hora em que eu estava forte o suficiente para encarar o que estivesse por vir.
E nesse meio tempo eu precisei matar um leão por dia para poder continuar sendo o que sou.
É aquela velha história de que o tempo resolve.
E cura mesmo.
Tudo o que aconteceu desde a infância, fez com que hoje eu seja assim.
Sou doce. Mas sou justa.
Confesso que há traços na minha personalidade em que devo observar para poder me policiar. Ainda há uma certa inocência.
Por mais que o mundo me mostre o lado ruim das pessoas, eu ainda acredito no ser humano.
Eu não quero virar uma figura desconfiada, que anda “pisando em ovos”...
Mais do que nunca, acredito que viemos ao mundo em busca da felicidade.
Não da felicidade plena, posto que ela não exista.
Mas devemos ir em busca de momentos felizes.
E estar feliz é estar em harmonia com seu ser. Com seu corpo, mente e espírito.
“Vem me desafiar pra me ver crescer, me prepara pro que vai chegar...” (Eu e Vida – Jorge Vercillo).
E é isso que tento fazer.
Ser feliz é o que importa...