quinta-feira, 28 de outubro de 2010

A Bailarina

O teu silêncio que procura distâncias.

E te apóias de leve – no chão como se ar te faltasse.

Que distâncias percorrestes? E o teu suar, superfície rosa. Quem te ensinou?


Tuas mãos e os saltimbancos. Quanto tempo em conúbio.

Como eles vivestes. Alada.

O chão teclado e o teu esqueleto. Tua álgebra feita de pés e mãos.

E o segredo de formas nunca vistas que revelas.

Crias e num instante aniquilas tua criação.

Porque não voas, irmã?

(Tomás Seixas)


Dança é vida...

“Para quem danço? Nem eu sei...

Danço com as palavras, com as mãos, com os olhos.

Danço sozinha no meio das gentes,

Danço nua, vestida de azul, ou de negro e até de vermelho já me cobri.

Danço a rir e a chorar

Danço a sonhar

Até quando amo, eu danço.

 
Vivi sempre a dançar, mesmo parada no meu canto

Dançarei sempre, mesmo que a música se cale

Ensaiei passos diferentes para acordes vários

Em alguns, tropecei, até caí

Mas sempre a dançar, nunca desisti

E retomava os passos novos que aprendi

Porque a dança é vida e quando eu parar

É porque morri!



Se é para ti que eu danço?
Danço para mim!
Mas esta noite, sim, a minha dança foi para ti!"



(Poema de MT in Vivência)

Rápido e Rasteiro

"Vai ter uma festa

que eu vou dançar

até o sapato pedir pra parar.

Aí eu paro

tiro o sapato

e danço o resto da vida.

Chacal

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Gui

A vida é assim.
Às vezes amamos alguém intensamente e de repente ela se vai...

E dói, dói muito quando nos arrancam quem amamos, quem passamos a amar tão de repente,
por quem lutamos, por quem sofremos.

Mas assim são os presentes da vida, parecem oferendas do mar.

Entrega-nos, deixando a nossa disposição na areia e numa rebeldia tsunâmica arrasta de volta para as profundezas do desconhecido.

Quem há de entender a vida?

Quem há de decifrar o mar?

(Taciana Valença)   
        
Gui, descanse em paz...

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Parte de mim




"Uma parte de mim é todo mundo:

outra parte é ninguém: fundo sem fundo.



Uma parte de mim é multidão:

outra parte estranheza e solidão.



Uma parte de mim pesa, pondera:

outra parte delira.



Uma parte de mim almoça e janta:

outra parte se espanta.



Uma parte de mim é permanente:

outra parte se sabe de repente."





(Ferreira Gullar)

É normal...

                       
Por mais de um ano trabalhei no PEA (Programa Escola Aberta) na Secretaria de Educação do Estado (PE).
O PEA ficava no Edifício Pernambuco, ali na Dantas Barreto de esquina com a Guararapes.
O escritório era todo fechado, apenas a cozinha tinha uma janela.
Uma janela pequena enfeitada por dois jarrinhos com plantas.
Era pra cozinha que eu ia quando já havia perdido a noção da hora.
E era lá que eu observava o tempo.
Passava o dia numa sala em meio a papéis, números, telefonemas e algumas pessoas reclamando, sem saber que lá fora estava caindo uma chuva que batia na janela e molhava as plantinhas.

Ah, as plantinhas!
Essas estavam no lugar certo.
Na beira da janela.
Ali elas levavam sol e eram aguadas em dias de chuva.
Como eu queria estar no lugar delas. Olhar a praça. Ver gente.
E era pra lá que eu ia.
Era lá que eu esquecia os números, os cálculos, as notas... E olhava.
Simplesmente, olhava.

No banco daquela pracinha tinha uma estátua de um homem sentado, segurando um jornal.
Nunca desci lá para ver, mas acredito que seja de alguma personalidade importante para o Estado, um escritor...
Percebi que todos que ali sentavam, costumavam olhar o jornal de concreto.
- Curiosidade.
Mas havia um homem que fazia mais do que olhar.
Ele também conversava com a estátua.
Percebia em sua face a expressão de quem indagava e ainda se aproximava do rosto da estátua.
Olhos nos olhos.

Esse homem me surpreendia, sempre o via por ali e me questionava:
- Parece louco
Um homem com roupas sujas, descalço conversando com uma estátua.
Como pode?
Não havia diálogo, o outro jamais responderia.
Seria a solidão que fazia o homem chegar a esse ponto?

Depois de um tempo vendo essa cena diariamente, percebi que ali havia cumplicidade.
O homem não preciva de respostas, apenas de companhia.
Louco?
Não era ele quem vivia numa sala fechada, cheia de papéis e números.

Descalço, o homem era livre!
Com aquele homem, aprendi que a solidão pode fazer a pessoa sentar-se num banco e conversar com uma estátua.
E pode fazer também alguém sentir-se preso, olhando a vida por uma pequena janela.



Gabriele Lima 01/10/10