Escrever, para mim, sempre foi um hábito. Nunca o fiz por obrigação. Tenho guardados os diários e agendas. Escrevia até nos cadernos da escola. Claro que há muita bobagem e muitas letras de músicas. Sempre fui assim. Mas em nenhum momento passava pela minha cabeça que desse hábito poderia sair uma profissão. Quando criança, não sabia o que queria ser. Ouvia minha irmã dizer que queria ser professora. Mas eu? Não conseguia responder. Lembro de uma época em que eu quis ser paquita. É, queria ser assistente de palco do Xou da Xuxa. Fama? Ser artista? Não. Queria estar perto de Xuxa. Só isso. E também, por que nas brincadeiras infantis com as minhas primas e irmã, por ser a mais nova, era o que me sobrava. A prima mais velha sempre era Xuxa, as outras duas eram as paquitas mais importantes e para mim, restava ser a paquita pastel, aquela mais destranbelhada, rs. Eu gostava. Seria essa a minha profissão. Até que um dia caiu a ficha de que eu era morena. Paquitas são loiras! Um baque. Decidi que queria ser bailarina.
Treinava escondida no quarto, guiando-me por uma revistinha que ensinava passo a passo. Mas cresci estranha, meus pés ficaram grandes demais. E cá entre nós, eu nunca dancei dentro do ritmo. Sempre fui meio descompassada. Pensei em fazer teatro ou artes plásticas (por admirar a arte popular). Mas nunca me arrisquei em um curso... Até que um dia, numa fase mais introspectiva (início da adolescência) voltei a escrever e por um momento, pensei em ser Jornalista.
Não sei explicar ao certo, mas enquanto a maioria dos meus colegas reclamavam ao ouvir o tema da redação na escola, eu ficava alegre. E assim, não só fazia a minha, como também a de outras pessoas da classe. De algumas, eu apenas corrigia os erros e cortava as repetições de palavras. Hoje sei que gostar de escrever e estar atenta ao outro, não é o suficiente para ingressar nessa profissão. Já ouvi relatos de quem se decepcionou nesse meio, por conta das concessões. A verdade é que a gente romantiza muito as profissões escolhidas e acaba frustrada ao se deparar com a realidade. Mas, independente dos relatos de quem desaconselha, eu preferi dar ouvidos a quem escolheu e se apaixonou, e descobriu outras vertentes, conheceu novos caminhos dentro da área da comunicação.
Eu não faço ideia de como vai ser mais pra frente. Sei que não vai ser nada fácil conciliar trabalho e faculdade. Sei o quão cansativo que há de ser. Pode dar certo. Pode dar errado. Mas eu quero seguir meu coração. Minhas ideias. Minhas palavras. Foi o que decidi pra mim. E eu estou disposta a enfrentar a correria do dia a dia, a voltar à sala de aula, a encarar meus medinhos... Sim, eu estou disposta. E não há outra opção. Será no início do próximo ano. Paquita. Bailarina. Pintora. Secretária. Técnica. Aonde eu me encaixo? Posso ser todas, posso escrever sobre todas. Por que as palavras me permitem ser mais do que sou. As palavras me permitem ser eu e ser outras. Pronto. É isso que eu quero ser. Jornalista? Escritora? Pretenções? Pode ser. Mas eu escolhi ser todas que eu puder ser.
