sexta-feira, 20 de abril de 2012

Lembranças vão me consumir...


Confesso que quando você me beijava, por alguns segundos eu não fechava os olhos. Queria ver a sua expressão no meio do beijo porque era uma expressão diferente. Gostava de ver você me beijando, assim, bem de perto, seus olhos fechados, sua expressão inédita que eu tentava decorar, como se assim fosse mais seguro de que aquela lembrança ficaria colada no meu cérebro para sempre. Queria decorar a textura da sua pele, a impressão digital do seu rosto (por um tempo ficou marcada no meu), a lateral do seu rosto, o seu nariz, as suas marcas de expressão, as suas dobras quando você fechava bem olhos para me beijar e, no começo do beijo - eram beijos longos - tirava os óculos. Eram beijos longos. 

E assim o fiz. Já sei decorada a sua textura, suas mãos, seus lábios, sua língua, seus braços, suas costas (tão másculas), seu nariz (ah, vale um parênteses! Eu adoro o seu nariz. Logo eu, que sempre gostei de homens de nariz grande, me rendi a um pequeno e bem feitinho) seus cabelos (tão bom de tocá-los), sua pele... Eu decorei todos os detalhes.
Eu escrevo essas coisas aqui e depois fico pensando... Para mim, né? Não acho que você me leia... Não, você não me lê. Você não suporta meus e-mails, quem dirá meus posts... Mas se assim o fizesse, ficaria com o ego lá no alto de tanto que eu escrevo sobre você. Para você. Deve ser bom saber que se é a inspiração de uma aspirante a redatora (quanta pretensão!). Eu bem queria fuçar o blog de alguém e me ver nas entrelinhas. Saber que alguém pensou em mim enquanto escrevia. Você tem noção do que isso significa? Não, você não me lê, portanto não sabe. Eu ficaria toda vaidosa. Mais do que isso, eu ficaria feliz ao me ler nas palavras de alguém. Me sentiria no mínimo, especial. Escrever é algo muito pessoal. Muito íntimo. Escrever sobre alguém é despí-la do seu imaginário e torná-la eterna em palavras.
E lembrei que eu já me li! Como eu poderia esquecer dos contos? Sim, é uma outra forma. Nos contos, é tudo muito carnal. Mas não deixa de ser um texto. Acontece que eu não preciso ser tema de poema, poesia, conto ou coisa que o valha. Eu prefiro fazer. Ter a inspiração e escrever. E eu escrevo você de todas as formas. Através de lembranças dos detalhes que por vezes impregnaram em meu corpo e em minha alma. E assim o farei enquanto estiver forte em mim. Escrevo diretamente sobre você, na segunda e na terceira pessoa do singular e algumas vezes na primeira do plural. Depende. E quer saber? Não espero que você me leia (ou seria 'se leia'?), eu só preciso continuar escrevendo. Torto ou não. À minha maneira.
P.S: O primeiro parágrafo do texto é da jornalista Rosana Caiado, que escreve para o site Bolsa de Mulher. Trouxe para cá, por que achei a nossa cara. Ops, a minha cara! Ou seria a sua?
Gabi